Fisiologia
da Retenção de Placenta
Este texto é parte da palestra apresentada por
Milo C. Wiltbank, no X Curso de Novos Enfoques na Reprodução e Produção de
Bovinos, realizado em Uberlândia em março de 2006.
Inicialmente o texto vai parecer difícil, mas tenha
paciência e perseverança para chegar até o final, você vai entender porque é
tão importante controlar o estresse das vacas no período de transição.
Introdução
A retenção de
membranas fetais após o parto é um problema descrito desde os primeiros textos
sobre reprodução de bovinos. Strebel, por exemplo, publicou uma revisão em 1890
avaliando a ocorrência e tratamento da retenção de placenta (RP) em animais
domésticos. O problema ainda hoje é bastante significativo em muitas
propriedades. Estudos publicados sobre a incidência da retenção de placenta
relatam valores de 3% a 39% dos partos (Joosten et al., 1987; Laven e Peters,
1996), mas esta taxa depende da definição de retenção de placenta. Uma análise
mais completa do momento em que se caracteriza a retenção de placenta está
apresentada na Tabela 1.
Tabela 1. Incidência de retenção de placenta (van Werven at al., 1992)
Duração da Retenção
de Placenta (horas)
|
Porcentagem de
retenção de Placenta por Ordem de Parição (%)
|
|||
1 (n=277)
|
2 e 3 (n=394)
|
>3 (n=339)
|
Geral (n=1010)
|
|
>6
|
27
|
33
|
41
|
34
|
>8
|
16
|
26
|
30
|
25
|
>12
|
10
|
20
|
28
|
18
|
>23
|
8
|
17
|
18
|
15
|
>47
|
7
|
14
|
17
|
13
|
>71
|
7
|
14
|
14
|
12
|
Como se pode
perceber, 1010 vacas foram avaliadas neste estudo e 34% não haviam expulsado a
placenta em 6 horas após o parto. Em outras palavras, 2/3 das vacas expulsaram
a placenta em um período de até 6 horas. Em outros 15% das vacas, a retenção da
placenta prolongou-se por mais de 1 dia (>23 horas). Se examinarmos o efeito
do número de partos, percebemos que à medida que a vaca envelhece, apresenta
maior tendência de retenção de placenta. Por exemplo, 28% das vacas mais velhas
(mais de 3 lactações) retiveram a placenta >12horas. Entretanto, somente 10%
das novilhas de primeira lactação retiveram a placenta por mais de 12 horas.
A
conclusão deste estudo é que a retenção de placenta pode incluir qualquer vaca
que não expulse a placenta em até 6 horas após o parto. Um terço (1/3) das vacas pode ser
incluída nesta categoria. Caso a definição de retenção de placenta seja ampliada
para 24 horas, então 15% das vacas terão sido diagnosticadas com o problema e a
incidência praticamente dobra em vacas mais velhas.
O
custo financeiro médio da retenção de placenta foi estimado em US$ 285 por
evento (Kimura et al., 2002). Entretanto, este custo pode variar enormemente em
vacas individuais, principalmente de acordo com o número de partos. No estudo
de vanWerven et al. (1992), o desempenho reprodutivo de novilhas de primeira
cria e o de vacas de segundo e terceiro partos não foi significativamente afetado
pela duração da retenção de placenta. Em novilhas primíparas, não se observou
nenhum ponto de corte em que o atraso da expulsão da placenta passasse a ter
efeito prejudicial sobre qualquer das variáveis de produção ou reprodução
medidas no estudo. Entretanto, vacas de quatro partos ou mais apresentaram o
melhor desempenho reprodutivo quando expulsavam a placenta em até 6 horas. A
retenção da placenta por período superior a 6 horas resultou em aumento de 17
dias até o primeiro serviço e 26 dias adicionais no período de serviço. Vacas
mais velhas também produziram menos leite com maior duração da retenção. Tanto
as vacas de segundo e terceiro partos quanto as de quatro partos ou mais
apresentaram o melhor desempenho geral em todos os parâmetros testados quando
as placentas eram expulsas em até 6 horas após o parto.
Entre
fazendas, existe alta variabilidade na incidência de RP. Algumas fazendas apresentam
incidência de RP de apenas 1%, enquanto em outras pode chegar a 35%. Alguns
estudos observaram alta incidência de RP com efeito dramático dos tratamentos
em reduzir a incidência; outros estudos, entretanto, observaram baixa
incidência e nenhum efeito dos tratamentos sobre a incidência de RP. Assim, a
incidência e o impacto da RP são altamente variáveis. A idade da vaca e fatores
específicos de cada fazenda são obviamente importantes para a manifestação da
condição e para seu impacto sobre produção e reprodução.
Causas e Prevenção da Retenção de
Placenta:
A
placenta deve permanecer fortemente aderida ao útero materno para manter a
troca de nutrientes e oxigênio necessários para uma gestação normal.
Entretanto, as membranas fetais devem ser rapidamente liberadas no momento do
parto para que ocorra uma expulsão normal. Obviamente, este processo de
descolamento da placenta deve ser cuidadosamente controlado para permitir a
manutenção de sua função até o momento adequado de sua expulsão.
Foram
identificados vários fatores de risco para a RP. Por exemplo: aborto,
natimortos, partos gemelares, distocia, indução do parto, distúrbios
metabólicos e curta duração da gestação foram associados à maior incidência de RP
(Laven e Peters, 1996). Mesmo assim, somente um terço dos casos de RP estão
associados a estes fatores de risco. Gestação e parto normal ainda podem estar
associados a uma incidência surpreendentemente elevada de RP. Por exemplo, em
um estudo de incidência geral de 6,6% de RP, as vacas que pariram normalmente e
que não tinham nenhum outro problema de saúde identificado, ainda assim
apresentaram uma incidência de 4,1% (Joosten et al., 1987; 1991). Desta forma,
embora existam claros fatores de risco para a RP, muitos dos problemas com esta
condição ocorrem em animais aparentemente fora dos grupos de risco.
Alguns
autores sugeriram que a falta de contratilidade uterina poderia ser a causa
primária da RP. Entretanto, trabalhos recentes indicam que a contratilidade
uterina, embora ligeiramente reduzida em vacas com RP, parece ser suficiente
para a expulsão das membranas fetais. Dados recentes sugerem que a principal
causa da RP pode ser a não degradação dos pontos de adesão entre
carúncula-cotilédone e não a falta de contratilidade uterina (Lavern e Peters,
1996; Davies et al., 2004; Martins et al., 2004).
Para
procurar identificar possíveis causas da RP, serão discutidas 5 causas já bem
caracterizadas do problema. O modelo apresentado poderá facilitar a compreensão
destas causas da RP em base nas evidências disponível. Finalmente, este modelo
será usado para explicar a RP em cada um destes casos e para a formulação de
programas de prevenção.
Cinco condições associadas à
retenção de placenta:
Endocruzamento ou similaridade genética entre
vaca e bezerro: Quando a vaca e seu bezerro apresentam compatibilidade
ou identidade de MHC classe I (complexo principal de histocompatibilidade),
existe uma alta probabilidade de RP (Joosten et al., 1991).
Indução de parto com prostaglandina F2a: Quando as vacas foram
tratadas com PGF2a no dia 276 de
gestação, o parto ocorreu precocemente (em 44 ± 2 horas após o tratamento, em
comparação a 163 ± 30 horas em vacas controles). Entretanto, houve alta
incidência de RP (86%) com tempo médio de retenção de 153 ± 25 horas (Rasmussen
et al., 1996). Esta elevada taxa de RP não foi reduzida pela elevação das
concentrações de E2 (50 mg de benzoato de estradiol).
Alto nível de estresse antes do parto: Vacas expostas a lotação excessiva, transporte ou
outras formas de estresse têm maior probabilidade de apresentar incidência
elevada de RP. Peters e Bosu (1987) demonstraram que o hormônio mais
freqüentemente associado à RP era o cortisol, quando os níveis estavam elevados
durante os 5 dias anteriores ao parto.
Indução do parto com dexametasona ou outros
glicocorticóides de ação prolongada: A indução do parto com dexametasona resulta em boa
previsão do momento do nascimento (30-48 horas depois), mas resulta em taxa
inaceitavelmente elevada de RP (50-90%).
Baixos níveis de selênio ou vitamina E: Em vacas com baixos níveis séricos de selênio ou
vitamina E observa-se significativo aumento de RP (LeBlanc et al., 2004;
Allison e Laven, 2000).
Modelo
de Expulsão Normal e Tardia da Placenta
A
Figura 1 mostra os eventos iniciais no processo de parto. O cortisol fetal é o
primeiro fator desencadeante deste processo. Este aumento de cortisol provém da
glândula adrenal fetal. A glândula adrenal fetal é estimulada pelo ACTH
decorrente da maturação do hipotálamo fetal e do eixo do estresse próximo ao
momento previsto para o parto. Neste processo, o cortisol fetal atinge um nível
crítico ao redor de 30 horas antes do parto normal. Deve-se salientar que este
aumento dos níveis séricos de cortisol é observado somente do lado da
circulação fetal. Qualquer aumento do cortisol sérico do lado da circulação
materna é devido à produção de cortisol pela glândula adrenal materna.
Existe
uma população de grandes granulócitos binucleados no trofoectoderma (lado
fetal) da placenta que desempenha um papel crítico no processo de parto. Estas
células produzem lactogênio placentário e glicoproteínas associadas à gestação.
São responsáveis por 15-20% das células do trofoectoderma ovino e bovino
durante a maior parte da gestação, mas ocorre uma queda dramática em seu número
nos momentos que antecedem o parto, simultaneamente à elevação do cortisol
fetal (Ward et al., 2002). A adrenalectomia fetal (retirada da adrenal do feto)
inibe a migração normal e a redução do número de células binucleadas. Por outro
lado, o tratamento do feto com cortisol exógeno antes do momento previsto para
o parto causa a migração prematura das células binucleadas e redução de seu
número (Wooding et al., 1986; Ward et al., 2002). Assim, o aumento do cortisol
resulta em migração das células binucleadas do lado fetal da placenta para o
lado materno. À medida que estas células migram e sofrem degranulação, ocorre
um pico acentuado na concentração de lactogênio placentário e outras proteínas
específicas da gestação. Estas células se fundem ao epitélio endometrial e
expressam MHC classe I em sua superfície. Antes deste momento, praticamente não
há expressão de MHC classe I nos placentomas bovinos e nas células do epitélio
endometrial. A porção de vilos/criptas do placentoma é a área de adesão e troca
de nutrientes. A expressão de MHC classe I nestas áreas é praticamente nula
antes da migração e degranulação destas células binucleadas (Davies et al.,
2000). Existe, entretanto, expressão de MHC classe I em outras regiões da
placenta, como entre os placentomas. Os mecanismos que inibem a expressão de
MHC classe I nas criptas placentárias até o momento do parto ainda não foram
identificados, mas são provavelmente críticos para a expulsão da placenta no
momento adequado.
Gunnink,
em 1984, foi o primeiro cientista a sugerir que a resposta imune inflamatória
era responsável pela separação normal da placenta. Estes elegantes estudos
demonstraram que os placentomas bovinos secretam um fator quimiotático que
atrai leucócitos (potencialmente monócitos; Kimura et al., 2002). Além disso,
os autores observaram que vacas com retenção de placenta produziam menos fator quimiotático
e que os leucócitos de vacas com retenção de placenta eram muito menos
responsivos a este fator placentário. Estudos mais recentes (Kimura et al.,
2002), demonstraram que os neutrófilos provavelmente estão envolvidos com a
rejeição imune da placenta e que vacas com RP apresentavam redução da função
dos neutrófilos. Assim, vacas com RP apresentam menor função imune placentária,
o que impede sua rejeição imune e provavelmente representa a causa da RP.
RESUMO:
O SISTEMA IMUNE MATERNO ATACA A PLACENTA E REJEITA ESTE TECIDO, RESULTANDO NA DEGRADAÇÃO
E EXPULSÃO DA MESMA.
Como este modelo ajuda a explicar as
cinco condições que causam a retenção de placenta:
Endocruzamento: Isto é bastante óbvio. Se as moléculas do MHC Classe I
forem idênticas para mãe e bezerro, o sistema imune materno não irá reconhecer
as células fetais como estranhas. Mesmo em casos em que a identidade não é
completa, quanto maior a semelhança entre as moléculas do MHC Classe I da vaca
e do bezerro, maior a probabilidade de RP. Isto é óbvio, pois o sistema imune
da vaca não ataca a placenta para causar sua degradação e expulsão.
Indução do parto com PGF2a: Este aspecto também
é bastante evidente. O tratamento com PGF2a antes do momento
normal previsto para o parto leva à regressão do corpo lúteo. A regressão do
corpo lúteo resulta em redução das concentrações de progesterona e inicia o
trabalho de parto. Entretanto, o trabalho de parto não pode ser iniciado se não
houver elevação dos níveis de cortisol na circulação fetal. Portanto, não
haverá migração de células binucleadas para a circulação materna. A falta da
migração impede a expressão de MHC Classe I nas criptas placentárias e o
sistema imune materno não poderá rejeitar a placenta fetal no momento do parto.
Em outras palavras, os estágios finais da maturação placentária não ocorrem
devido à indução do parto com PGF2a sem a migração das
células binucleadas.
Estresse: Esta parece ser uma
causa importante de RP em muitos rebanhos leiteiros. Ainda assim, fica difícil
explicar como o aumento do cortisol materno resulta em maior incidência de
retenção de placenta. Obviamente, maior nível de estress eresulta em aumento do
cortisol sérico, que é o marcador hormonal clássico de estresse. Altos níveis
de cortisol inibem a resposta imune de forma significativa, o que impede a
rejeição de transplantes de tecidos e medula óssea. Infelizmente, nesta
situação, as altas concentrações de cortisol no lado materno da circulação
atuam inibindo a rejeição da placenta pelo sistema imune materno. Assim, estresse
com elevação significativa do cortisol durante a semana anterior ao parto inibe
a rejeição da placenta, aumentando a freqüência de RP.
O
mecanismo descrito acima se baseia em lógica fisiológica, mas ainda não foi
experimentalmente testado. Ainda assim, parece explicar o que tenho observado
em casos de campo de RP. Fazendas leiteiras cujas vacas são expostas a altos
níveis de estresse durante o período pré-parto imediato parecem ter maior
probabilidade de alta taxa de RP. Veterinários que procuram reduzir a
incidência de RP em fazendas leiteiras precisam avaliar a situação das vacas nos
lotes de transição antes do parto. Em outras palavras, precisam identificar o
nível de estresse a que as vacas são expostas na semana que antecede o parto. O
veterinário deve avaliar a situação com a atenção voltada a possíveis fontes de
estresse. O instinto das vacas é o de se esconder de pessoas e outros animais
durante o trabalho de parto. Será que a vaca estará estressada quando se
aproxima o parto? Seus
níveis de cortisol são altos ou baixos? Uma mesma situação pode ser estressante para
uma vaca (elevando seu cortisol), mas não ser percebida como fonte de stress
por outra vaca.
Indução do parto com dexametasona: Pode parecer que a
razão da RP neste caso seria a mesma que no caso da indução precoce com
prostaglandina F2a. Entretanto, o caso
não é o mesmo. O tratamento da vaca com uma injeção de dexametasona também
eleva a concentração de dexametasona na circulação fetal, pois este hormônio
atravessa rapidamente a placenta. Assim, é semelhante aos experimentos
descritos acima, em que o feto foi tratado com cortisol, que induziu o parto
prematuramente. Entretanto, como mencionado acima, o tratamento do feto com
cortisol desencadeia a migração das células binucleadas da circulação fetal
para a materna (Wooding et al., 1986; Ward et al., 2002), expondo o sistema
imune materno aos antígenos que causam rejeição e expulsão normal da placenta.
Infelizmente, a dexametasona também está presente em concentrações muito elevadas
na circulação materna após injeção intramuscular. Sabe-se que estas altas
concentrações inibem o sistema imune materno. Assim, a RP varia em vacas
induzidas com dexametasona em comparação à indução com PGF2a. Com PGF2a, a indução precoce
do parto sem migração das células binucleadas impede a rejeição imune materna
da placenta, enquanto com dexametasona, as células binucleadas migram, mas o
sistema imune materno está inibido pela alta concentração de glicocorticóide na
circulação.
Em
base neste modelo tão claro, pareceria provável que pudéssemos desenvolver um
método para induzir o parto de forma que ocorra em um período consistente,
porém sem o problema da RP (CalfSynch). Infelizmente, ainda não foi possível. A indução da migração
de células binucleadas sem inibição do sistema imune materno pode parecer
simples, mas tem sido surpreendentemente difícil de obter na prática.
Baixos níveis de selênio ou vitamina E: Este problema nutricional pode claramente causar RP.
Sabe-se que o selênio e a vitamina E são essenciais para a função adequada do
sistema imune. Assim, qualquer deficiência nutricional que deprima a função
imune poderia aumentar as taxas de RP através dos mecanismos acima discutidos.
Recentes
estudos indicaram que a suplementação de vitamina E em altos níveis (pelo menos
1000 UI ao dia) durante o período seco e início de lactação pode reduzir a
incidência de mastite (Alison e Laven, 2000). Possivelmente, este efeito
deve-se à maior atividade e função do sistema imune. Um estudo recente avaliou
a relação entre os níveis séricos peri-parto de vitamina E com a RP e mastite
clínica em início de lactação em mais de 1000 vacas leiteiras em lactação no
Canadá (LeBlanc et al., 2004). Este estudo observou que para cada aumento de 1
µg/ml nos níveis de alfa-tocoferol circulante, houve uma redução de 20% na
incidência da RP. Da mesma forma, vacas com baixos níveis pré-parto de
alfa-tocoferol apresentaram maior probabilidade de ter mastite clínica durante
os primeiros 30 dias de lactação.
Em
regiões em que o solo é deficiente em selênio, podem ocorrer altas taxas de RP.
O selênio é armazenado principalmente em selenoaminoácidos. Desta
forma, a suplementação de selênio inorgânico na dieta pode nem sempre fornecer
níveis adequados nem resultar em elevação nas concentrações
"fisiológicas" de selênio antes de atingir níveis tóxicos. A
suplementação de vacas com selênio orgânico ou a fertilização de pastagens com
selênio melhoraram o aporte de selênio a vacas leiteiras em lactação.
Assim,
este modelo fisiológico relativamente simples explica uma grande porcentagem
dos casos de RP. Também constitui uma base lógica para a prevenção e tratamento
da RP.
RESUMO:
SE NÃO OCORRER A REJEIÇÃO IMUNE, PODERÁ HAVER RETENÇÃO DE PLACENTA.
NÍVEIS
DE VITAMINA E OU SELÊNIO BAIXOS = DEPRESSÃO DA RESPOSTA IMUNE.
CORTISOL
ELEVADO NA CIRCULAÇÃO MATERNA = BLOQUEIO DA RESPOSTA IMUNE.
Tratamentos da retenção de placenta:
Diversos
estudos descreveram uma série de diferentes métodos de tratamento da RP. Ainda
assim, nos parece que a prevenção é uma opção muito melhor para lidar com o
problema. Muitas granjas apresentam incidência extremamente baixa de RP e, de
acordo com o modelo acima, muitas das causas Da RP podem ser evitadas com
sucesso.
Um
dos tratamentos mais comuns é a administração de prostaglandina F2a. Há pelo menos 14 diferentes estudos
científicos publicados que avaliaram o efeito de diversos produtos de PGF2a sobre a retenção de placenta. Cerca de 50%
destes estudos demonstraram algum nível de melhora, especialmente quando a PGF2a era administrada em momento próximo ao parto
(consultar Peters e Laven, 1996 e referências em Drillich et al., 2006).
Oxitocina
e seus análogos também foram avaliados em muitos estudos sobre RP. A maioria
destes estudos usou doses de 50-100 UI de oxitocina. Mais uma vez, 50% destes
estudos demonstraram alguma melhora, principalmente com os análogos de
oxitocina de longa duração ou múltiplos tratamentos com oxitocina (consultar
Peters e Laven, 1996 e referências em Drillich et al., 2006).
Vários estudos
avaliaram o uso de antibióticos intra-uterinos e remoção manual da placenta,
mas estas não parecem intervenções eficazes para o tratamento da RP. Por
exemplo, um recente estudo dividiu um total de 501 vacas com RP em 4 grupos de
tratamento: Referência (REF = Grupo controle; n = 131), tratamento com uma
pílula intra-uterina de antibiótico (AP; n = 119), tratamento com remoção
manual da placenta (MR; n = 121), ou pílula de antibiótico mais remoção manual
(PR; n = 130). Todas as vacas neste estudo foram monitoradas para temperatura e
caso esta se elevasse para > 39,5 °C (79,8% das vacas),
elas eram tratadas com Ceftiofur (1 mg/kg peso corporal) por 3-5 dias
consecutivos. As vacas foram avaliadas para muitas variáveis relacionadas à
reprodução (dias até o primeiro serviço, taxa de concepção ao primeiro serviço,
taxa total de concepção, dias até confirmação da prenhez, % de vacas prenhes
aos 200 dias em lactação e % de vacas descartadas). Nenhuma destas variáveis
foi significativamente afetada pelos tratamentos.
Com base em uma série de publicações
recentes e mais antigas, a atual recomendação para o tratamento da RP é não
usar antibiótico intra-uterino ou remoção manual da placenta. Entretanto, todas
as vacas devem ser monitoradas e tratadas com antibióticos sistêmicos. Talvez
seja o caso de tratar todas as vacas com RP com antibióticos, pois quase todas
(~80%) desenvolvem febre. As vacas com febre e que foram tratadas com
antibióticos sistêmicos apresentaram melhor resultado reprodutivo no estudo
acima citado (Drillich et al., 2006), se comparadas a vacas com RP em que não
foi detectada febre e que não foram tratadas com antibióticos. O experimento
relata outros 2 resultados significativos. Primeiro, houve um efeito altamente
significativo do rebanho sobre os resultados reprodutivos. Este foi muito mais
importante que o efeito do tratamento (que não foi significativo). Além disso,
houve um efeito significativo do número de partos e as vacas primíparas com RP
apresentaram resultado reprodutivo muito melhor (independente do grupo de
tratamento) que vacas mais velhas com RP. Isto é consistente com a discussão
apresentada na primeira parte deste manuscrito, de que vacas com maior número
de partos têm maior probabilidade de apresentar RP e que esta tenha conseqüências
sobre a produção e a reprodução.
RESUMO: ATUAL RECOMENDAÇÃO PARA O TRATAMENTO DA RP:
- NÃO USAR ANTIBIÓTICO INTRA-UTERINO.
- NÃO REMOVER A PLACENTA MANUALMENTE.
- TODAS AS VACAS DEVEM SER MONITORADAS E TRATADAS
COM ANTIBIÓTICOS SISTÊMICOS SE APRESENNTAREM FEBRE.
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